Codependencia Emocional

Codependencia emocional, um assunto que ainda é pouco discutido, mas que conforme os estudos vão se aprofundando percebemos que uma grande parcela de nós somos codependentes emocionais, claro que como digo sempre entre o branco e o preto existem muitos tons de cinza, portanto o grau da dependência varia muito, podendo chegar ao nível de doença.

Mas o que é codependencia emocional, esse é um termo que começou a ser discutido em 1950 nos EUA, quando os primeiros grupos de dependentes químicos foram montados, e teve seu auge em 1970 quando tínhamos grupos de dependentes químicos espalhados por todo mundo. O que eles perceberam é que os acompanhantes/cuidadores dos dependentes químicos tinham um comportamento parecido, ou seja, uma dinâmica de relacionamento muito similar, e tal dinâmica e comportamento em nada favorecia a cura do dependente químico, então se iniciou os grupo para trabalhar os codependentes químicos.

Depois de um tempo estudando e trabalhando esses grupos, eles perceberam que não se tratava de uma dinâmica que existia somente em pessoas que se relacionavam com dependentes químicos, mas em relações em geral, e dai veio o termo codependente emocional.

Primeiro ponto importante é diferenciar a dependência emocional de codependencia emocional, e para tanto fica mais simples usarmos o exemplos de dependentes químicos e codependentes químicos, o dependente químico, depende da droga ou do álcool para se sentir feliz e bem, já um codependente químico, depende da ação dos dependentes químicos para se sentirem bem, ou seja, os codependentes químicos são em geral muito manipuladores e controladores.

Tendo isso em vista vamos falar um pouco sobre os papeis nesta dinâmica de relacionamento, nós temos três papeis fundamentais nesse tipo de relacionamento:

A vitima, neste caso uma pessoa que tem dificuldade de se responsabilizar pela própria vida, que se encontra perdido ou ferido, magoado triste e vitimizado pela vida ou por outras pessoas de seu convívio.

O salvador da pátria: A pessoa que esta disposta a ajudar essa vitima a qualquer custo, mudando toda sua vida e estruturando suas ações para atender as necessidades do outro.

O algoz: A pessoa que se utiliza de força física ou psicológica para controlar os outros, através de gritos e ameaças.

E como toda dinâmica relacional, essa também é algo que mudamos de papel a depender das nossas relações. O codependente emocional tende a se identificar mais com o papel de salvador da pátria, estando sempre disponível e disposto a ajudar o outro, mas veja que o foco aqui é ajudar o outro para buscar aceitação e amor, ou seja, é um jogo de manipulação. E quando o outro não faz o que ele acredita ser o correto, ou seja, ama-lo, aceita-lo e reconhece-lo como alguém fundamental na sua vida, ele passa para o papel de vitima, afinal eu fiz tudo pelo outro e ele é um ingrato que não reconhece tudo que eu fiz, e nessa nova dinâmica a até então vitima passa para o papel de algoz.

E ai você pode me perguntar, mas eu gosto de ajudar todo mundo, eu não deveria ajudar? Isso faz de mim um codependente?  E eu vou dizer que depende, se você da ao outro o que sobra em você, o que transborda em você, não existe nada de errado em doar-se para o outro. Mas se você da ao outro, como forma de manipulação pra ser amado e aceito pelo outro e desta forma tapar seus buracos emocionais, então você certamente esta dentro de uma dinâmica de codependencia emocional. E como eu percebo isso? Entendendo suas reações quando a pessoa que você se doou não quer mais receber a sua doação, ou mesmo não valoriza a sua doação, como você reage a isso? Você reage de forma amorosa, entendendo que esta tudo bem essa atitude do outro de não valorizar e aceitar a sua ajuda, ou você reage com frases do tipo: Eu fiz tudo por ele e ele não deu valor. Ele é um ingrato que não reconhece o que eu faço. Eu me prejudiquei, por ele e ele não reconheceu.

Preste atenção nas suas reações, elas te dirão se sua ajuda é genuína, ou se é uma ajuda manipuladora em busca da aceitação e do amor do outro.

E se você de alguma forma se reconheceu como codependente, o que confesso é muito comum, esta na hora de entendermos um pouco melhor porque isso acontece.

Todos nós em algum momento da vida tivemos uma rejeição, uma castração, um trauma, em geral isso ocorre ainda na primeira infância, e com isso vamos formando o que intitulamos de nossa criança ferida, ou seja, nossas feridas emocionais.

O codependente emocional busca se anestesiar dessas feridas, de que forma? Não olhando pra elas, fingindo que eles não existem, que ele é bem resolvido, autossuficiente e, portanto, pode dar conta da própria vida e ainda dar conta da vida do outro. Que ele pode resolver seus próprios problemas e ainda resolver os problemas do outro.

Como ele não reconhece suas próprias feridas, ele se coloca em uma situação de super-herói, que não precisa da ajuda de ninguém, mas a verdade é que todos nós somos humanos e precisamos de apoio, ajuda e acalento em algum momento. Entretanto em alguns momentos ele “desmonta” e cai no papel de vitima nessa relação de codependencia, e ai as frases como, eu sempre ajuda todo mundo, mas ninguém me ajuda, aparecem. O que ele não percebe é que ele mesmo fecha as portas para quem tenta ajuda-lo, pois para que ele se sinta superior, ele busca se relacionar com pessoas que não dão conta da própria vida, desta forma ele se sente importante e necessário, e essa sensação de necessidade do outro lhe da à falsa impressão de amor e importância. Mas veja que essa é somente uma dinâmica de manipulação do outro em busca de ser amado.

E como sair desse papel de codependente? Algumas coisas precisam ser trabalhadas e observadas:

  1. O primeiro ponto é o autoconhecimento, pois é através dele que enxergamos nossas feridas emocionais, e entramos em contato com a nossa criança interior, permitindo que gastemos tempo curando nossas próprias férias em vez de “cuidar” das necessidades dos outros.
  2. Faça uma lista de tudo que você gosta de fazer, tente focar nas suas necessidades e não nas necessidades e desejos do outro. Só podemos fazer o que gostamos, quando sabemos o que gostamos.
  3. Aprenda a se amar e a se colocar em primeiro lugar na sua vida, eu sei que o social tende a valorizar quem ajuda os outros, mas devemos estar atentos se estamos ajudando os outros porque queremos a aprovação e o amor do outro ou porque realmente já cuidamos de nós e agora podemos cuidar do outro. Aqui vale aquela máxima, coloque primeiro a mascara de oxigênio em você e depois ajude quem esta ao seu lado.
  4. Entre em contato com suas emoções, precisamos aprender a viver nossas emoções, sem classifica-las em boas e ruins, só assim saberemos reagir a elas de forma gentil e não “represando” nem “explodindo”.

Espero que este texto tenha lhe ajudado a entender o que é codependencia emocional, porque entramos nessas dinâmicas emocionais e como trabalharmos nossas ações, atitudes e comportamentos para lidar com isso. Eu digo lidar, porque se acredita que a codependencia emocional, assim como a dependência do álcool, embora seja uma doença tratável, ainda não há cura. Isto significa que, mesmo que um codependente emocional esteja em um relacionamento saudável, ele é suscetível a ter dinâmicas de codependencia, portanto é importante ter consciência e estar sempre atendo as nossas dinâmicas relacionais.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Enquire here

Give us a call or fill in the form below and we'll contact you. We endeavor to answer all inquiries within 24 hours on business days.